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 Ironias do Amor

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tatxianny
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MensagemAssunto: Ironias do Amor   Ironias do Amor Icon_minitimeTer Nov 10, 2009 2:18 pm

Prologo

O encantador bilionário grego Mamoru Chiba jurou ficar longe das mulheres... até encontrar Usagi Tsukino, uma jovem estonteante, que deixa bem claro não querer nada com ele. Mamoru, porém, não é homem de desistir facil¬mente e, com seu charme irresistível, provoca em Usagi uma atração intensa e poderosa, como ela jamais sentira em sua vida. Enquanto isto, Usagi encontra o emprego dos seus so¬nhos, e, para sua surpresa, descobre que Mamoru é seu novo patrão, e também o pai de seu filho.


— Isso não é... não é uma espécie de conto de fadas.
— Por mais forte que seja o seu senso de dever, eu não pretendo me tornar vítima dele.
— Mas isso não diz respeito só a você. — Ele virou-se para encará-la. — E não estamos discutindo aqui se eu queria ser pai ou não. A realidade é que você está grávida do meu filho, e eu pretendo cuidar deste problema.
— Isso não é um problema — disse-lhe Usagi, apesar de uma parte pequena e traiçoeira dela implorar para ser cuidada. Foi a mesma parte dela que um dia dissera que ela podia lidar com um homem como Mamoru. Sábio seria evitar aquela tentação como quem evita uma praga.
— Um evento. Uma ocorrência. Um acontecimento. Chame como quiser, mas você não vai fugir de mim desta vez.
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tatxianny
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MensagemAssunto: Re: Ironias do Amor   Ironias do Amor Icon_minitimeQua Nov 11, 2009 1:41 pm

Aqui esta o primeiro capitulo.. espero que gostem





CAPÍTULO I

Mamoru Chiba não esperava gostar deste tipo de lugar. Ele sempre desprezou os executivos pretensiosos que, enquanto fingiam ter uma família feliz, frequentavam casas noturnas onde se ficam babando diante de raparigas lindas, vestidas com trajes pequenos. O tipo de lugar em que mulheres vendem a sua dignidade por gorjetas. O tipo de lugar em que ele estava.
Mamoru não conseguiu escapar do programa. Um cliente muito im¬portante, seguido por uma trupe de dois contadores e três diretores, havia insistido.
Ao dizer que queria conhecer a noite de Londres, o cliente não estava se referindo a um dos restaurantes refinados de Knightsbridge, a uma volta por Picaddilly Circus ou a programação cultural num dos teatros de Drury Lane.
"Onde eu vou levar esses caras, droga?", perguntara Mamoru frus¬trado à secretária. "Eu pareço um homem que vai a esse tipo de lugar? E cuidado com a resposta, lembre-se de que eu sou o patrão aqui." Mamoru sorriu para a secretária. "Eu não acho que você pode me dar uma dica? Você vai a lugares como esse?"
"Não acho que eles permitam a entrada de vovós ali, senhor Chiba", respondeu Makoto, 55 anos, de forma séria sem se deixar abater com a pergunta. "Eu vou me informar pelo escritório e ver se descu¬bro algum lugar apropriado."
Ponto para Makoto por ter descoberto uma boate que, pelo menos, não tinha mulheres dançando sobre os balcões ou dentro de jaulas suspensas.
Ao olhar em volta com uma taça de champanhe na mão, Mamoru agora nem achava o lugar tão sórdido assim, apesar do figurino mi¬núsculo das garçonetes. A iluminação fraca não ajudava, é verdade, mas a comida era aceitável. E daí se os drinques eram caros demais?
O negócio com aqueles clientes valia uma nota, e eles pareciam estar se divertindo.
Mamoru também não negaria que estava tendo prazer em admirar as esplêndidas garçonetes, às quais eram uma visão fantástica ao seu calejado coração.
Quando se tratava de namoro sério, Mamoru Chiba já apanhara o suficiente da vida. Suava frio somente por lembrar da ex-namorada, feliz ainda que não a visse e nem ouvisse nada sobre ela há seis meses.
Mamoru queria distância de todo o ritual que envolvia a conquista de uma mulher como, por exemplo, jantares românticos, teatros, ci¬nemas, etc.
Puxou conversa novamente com o seu cliente. Em seguida, olhou de modo discreto o relógio.
Foi quando levantou de novo a cabeça que Mamoru a avistou. Ela estava em pé junto à mesa deles. Equilibrava com naturalidade a bandeja na altura da cintura e tinha o corpo levemente inclinado para a frente, a abordagem típica das garçonetes do lugar para exibirem através do decote as formas dos seios, cuja fartura parecia mais fruto da medicina do que da natureza. Sorriam de forma provocante e esti¬mulavam os fregueses a consumirem champanhe. Certamente de¬viam levar uma comissão para cada garrafa vendida.
Aquela dali repetia os mesmos gestos, mas Mamoru não a havia notado até aquele momento.
De onde ela veio? Ela seguramente não aparecera naquele canto da boate até então.
— Os cavalheiros gostariam de uma garrafa do nosso champanhe?
A pergunta na cabeça de Mamoru era outra: o que ela lhe ofereceria?
Mamoru surpreendeu-se consigo mesmo, pois desde Rei, a ex-namorada, ele vinha mantendo no dia-a-dia uma existência celibatária e com frequência se desviava das muitas mulheres que passavam pelo seu caminho.
A garçonete reparou em cada homem na mesa e fixou os olhos em Mamoru, como se entendesse o que dizia o olhar persistente dele. Ela rapidamente virou o rosto e endireitou a postura.
— Mais uma garrafa?
— Por que não? — Difícil para ele tirar os olhos da garçonete loura. Ela não era apenas bonita. Ela era exótica, incomum. Tinha o queixo fino, um nariz reto e pequeno, olhos grandes, cabelos longos e lisos.
Mamoru voltou a relaxar na cadeira, posicionando-se melhor para observá-la. Ele agora se comportava como um daqueles executivos de meia-idade que desprezava.
Notou que a garçonete evitava olhar em sua direção, o que Mamoru achou um pouco irritante. Era ele afinal quem arcaria com o champanhe caro e que ela os convencera a consumir. Mamoru também estava acostumado a ser olhado pelas mulheres. Ele disse então, bem devagar:
— Mas esta é a última garrafa, meu amorzinho. O pessoal aqui começa a trabalhar amanhã bem cedo. — Um meio sorriso acompa¬nhou o comentário.
Ele percebeu a arrogância na própria voz e franziu o rosto em auto-reprovação. A solidão, pensou Mamoru sarcástico, devia estar realmente afetando-o, já que ele se empenhava em atrair a atenção de uma garçonete.
No entanto, o tom arrogante funcionou. Com uma cara de simpatia forçada e frieza, ela recolheu as taças vazias da mesa, voltou-se para Mamoru e disse agressiva:
— Eu não sou o seu amorzinho. — Deu meia-volta e se afastou.
Como ele ousa?, pensou Usa furiosa. Claro que ela já se depa¬rara antes com outros executivos bêbados e inconvenientes, que pen¬savam que podiam tratá-la como bem entendessem.
Ela aprendeu a ignorá-los na maioria das vezes. Era uma garçone¬te, mesmo que o vestidinho apertado e os sapatos de salto alto indi¬cassem o contrário. Além disso, não se permitiam intimidades entre fregueses e atendentes do lugar.
Os frequentadores não costumavam ser tão cheios de si como aquele dali. Algo nele fez com que os cabelos da nuca se arrepiassem. Isso não poderia acontecer. Afinal de contas, trabalhava ali há quase sete meses, o suficiente para aprender a lidar com caras asquerosos como aquele.
Não que ele parecesse repugnante, era até bem bonito, mas se havia uma pessoa no mundo que deveria saber que boa aparência podia cobrir inúmeros defeitos, esse alguém era ela.
— O que foi, lindona? — perguntou Seiya sorrindo, enquanto trocava as taças sujas que ela trouxera por limpas. Usagi sorriu de volta, sem muito ânimo.
— O de sempre.
— Ignore. Provavelmente ele tem uma pobre coitada de uma mu¬lher e um bando de crianças esperando-o em casa.
— Olha, será que a Minako não pode servir aquela mesa? Eu estou sem estômago para esse tipo de cara. — Uma briga com Motoki antes de sair de casa e um trabalho do curso para entregar nos próximos dias não a ajudavam.
— Impossível — lamentou Seiya. — O lugar está apinhado, e duas garotas faltaram. É por isso, inclusive, que você está servindo aquela mesa. O velho Tayki está a ponto de explodir.
Ela voltou à linha de frente, tentando parecer natural. Tayki exigia que as suas meninas se mostrassem animadas e dispostas, como se fosse divertido servir drinques para ricaços bêbados.
Entretanto, o dinheiro no fim do mês era ótimo, e disso ela não poderia se dar ao luxo de esquecer. Precisava do salário.
Quantos empregos noturnos pagavam a mesma grana? Não tinha condições de trabalhar de dia, pois estudava. Nas horas que restavam, quando restavam, dormia.
Ela pensou em Motoki. Logo, alguma coisa teria que ser feita em relação a ele. No entanto, como sempre acontecia quando pensava nele, decidia com tristeza adiar o assunto para outra hora.
O estranho dava a impressão de estar entretido com a conversa quando ela chegou à mesa dele e dos amigos. Usagi abriu com perí¬cia o champanhe e encheu as taças, sem ser notada.
O tal homem, porém, a deixara perturbada. Enquanto servia outras mesas, Usagi reparava nele, observava como ele comandava a con¬versa com os amigos. Era o centro das atenções.
A boate agora começava a esvaziar-se. Mais um pouco, e ela po¬deria ir embora sem causar maiores estragos. Sair antes do fim era uma desvantagem financeira, já que perdia as valiosas gorjetas dos que chegavam de madrugada. Contudo, precisava dormir um pouco. Usa era jovem, mas não de ferro. Diferentemente das colegas, não contava com horas de sono ininterrupto para se recuperar.
Espiou-os terminar o champanhe na esperança de que não haveria mais pedidos, mesmo que isso significasse menos dinheiro para ela. Respirou fundo e caminhou em direção a eles.
Todas as garotas quando contratadas passavam por um treinamen¬to sobre como andar no salão. Aos 23 anos de idade, ela nem descon¬fiara de que existiam diferentes maneiras de se caminhar. Para Usagi, sempre fora uma simples questão de colocar um pé na frente do outro. Ela, porém assimilou tão bem o novo estilo que agora, ao se dirigir à mesa daquele grupo de homens, suas passadas eram incons¬cientemente provocativas, efeito acentuado pelo seu corpo esbelto.
Mamoru, relaxado, contemplou a aproximação da moça. Ela estava determinada a não encará-lo. Ele podia se dar conta disso pelo jeito com que a garçonete recolhia as taças. Ela tampouco desejava que eles pedissem uma nova garrafa, mesmo que tenha oferecido com a mesma voz sensual de antes.
— Agora, me diga: onde você quer que eu ponha isto?
Mamoru exibiu as notas entre os seus dedos longos, ouviu a risadinha maldosa do seu cliente.
Usagi mostrou a palma da mão.
— O costume não é colocar o dinheiro num lugar bem mais íntimo?
— Não. — Usagi deu um sorriso e pediu a Deus que Tayki não estivesse por perto.
— Tudo bem. — Ele recuou e lhe entregou uma polpuda gorjeta. Usagi não esperava tal atitude. Afinal, ele era mais um típico freguês desagradável, o qual pensava que não havia nenhuma neces¬sidade de se tratar uma garçonete de casa noturna com respeito.
Por um segundo, Usagi sentiu-se desorientada, mas logo agarrou o merecido dinheiro com os dedos e saiu dali. Partiu na direção do vestiário, onde ela poderia trocar o traje ridículo e os sapatos que machucavam os seus pés por confortáveis jeans e tênis.
— Tayki — disse ela, já sem o uniforme de trabalho. Ele circulava pelo salão de cara amarrada para se assegurar de que os fregueses estavam satisfeitos. — Eu estou indo. — Usagi gostava de Tayki. Caso contrário, não aturaria o trabalho por tanto tempo. Por trás do verniz de chefe mal-humorado, ele tinha afeto pelas garotas que tra¬balhavam para ele e as tratava com consideração.
— Assim não dá, Usagi. Serão três garotas a menos. Por que você não fica e ganha um extra?
— E dormir menos ainda?
— Você deveria abandonar esse curso — resmungou ele. — Mar¬keting. Onde isso vai levá-la? Você vai pegar o diploma da faculdade e acabar voltando para cá. Agora vá. Não é bom que os fregueses vejam uma das suas glamourosas garçonetes vestidas com jeans e tênis.
Usagi riu.
— Não, não seria bom que eles pensassem que eu não passo todo tempo com vestidinhos apertados e salto alto.
Devagar ela atravessou o aglomerado de homens rumo à saída.
Próximo à porta e já de paletó, Mamoru recebia os agradecimentos entusiasmados dos seus convidados pela noite de diversão. Ele quase não reconheceu a loura encasacada que cruzou o grupo em direção à rua.
Em circunstâncias normais, Mamoru não se entregaria ao impulso de segui-la para puxar uma conversa e mostrá-la que ele não era o que ela estava pensando. À noite na boate, no entanto, o levou a concluir que o mundo é cheio de mulheres, mulheres sem complicações, que podem desfrutar a idéia de uma relação curta, sem compromissos.
Que outro tipo de mulher trabalharia num lugar como aquele? Certamente não aquelas pretensiosas da alta sociedade, como a sua ex-namorada, que fizera com que ele perdesse a vontade de levar a sério qualquer relação.
Pelo menos foi disso que ele se convenceu ao se despedir dos convidados, de olho no vulto que se apressava pela rua escura, pres¬tes a virar na próxima esquina.
Mamoru precisou ser veloz para não perdê-la, rápido o suficiente para que não lhe sobrasse muito tempo para pensar duas vezes no que fazia. Ele a alcançou quando ela se preparava para atravessar a rua. Esticou-se e a tocou de leve no braço.
Usagi se virou de forma brusca. Passava da meia-noite. As ruas estavam cheias de gente, mas também cheias de ladrões. Esta era a hora deles, quando na correria para pegar os táxis e os autocarros as pessoas tinham as carteiras à mostra, mal guardadas nas jaquetas, e já tinham bebido demais para conseguirem alcançar um bandido em fuga.
— Você! O que está fazendo aqui? Você está me seguindo?
Usagi somente o tinha visto sentado. Percebia agora o quão alto ele era. Tinha com certeza mais de 1,80 m. Bem mais alto do que ela, que media cerca de 1,70 m. De perto, a presença dele era muito mais poderosa. Debaixo do bem cortado paletó, Usagi presumiu que havia um corpo musculoso e perfeitamente torneado.
— Se eu contar isso para Tayki, ele vai servir a sua cabeça no café-da-manhã! — Ela não podia imaginar alguém, mesmo os leões-de-chácara mais eficientes de Tayki, capaz de servir a cabeça daquele homem no café. Obviamente, ele tinha a mesma opinião, pois a enca¬rou com um olhar de quem não estava acreditando em nada do que ela falava.
— Eu recebo as gorjetas dos fregueses, meu senhor, e isso é tudo que nos é permitido aceitar! — Usagi lhe deu as costas, atravessou a rua e percebeu que ele ainda a seguia. Na outra calçada, ela virou-se novamente, com uma expressão de raiva: — Eu já conheço o seu tipo, e você me dá nojo!
— Meu tipo? — disse Mamoru espantado, e descobria que a sua instintiva habilidade para controlar conversas não estava funcionan¬do com a loura irritada.
Mamoru a perseguiu porque alguma coisa nela mexera com ele. E muito. Queria pedir desculpas por ter se comportado de maneira grosseira e arrogante na boate, ao ter se insinuado para ela de um modo que, ele sabia, lhe provocara repulsa.
No entanto, o ataque dela estava passando dos limites, e a paciên¬cia de Mamoru não costumava durar tanto.
— Meu tipo? — repetiu ele, no tom de voz que já obrigara muitos dos seus poderosos rivais nas discussões de negócios a tremerem assustados nas bases. Com ela, porém, o efeito era nulo.
— Sim, o seu tipo! — Surpreendentemente, Usagi notava que estava gostando de toda aquela explosão de raiva. O choque inicial em vê-lo, o medo de que ele a seguira por um propósito havia passa¬do. Vulgar, convencido, arrogante e boçal o cara bem poderia ser, mas ela, sabia-se lá como, estava certa de que ele não a arrastaria para alguma ruela escura a fim de ali satisfazer os seus desejos sórdidos.
Usagi sentiu-se absolutamente livre para esbravejar com toda for¬ça contra ele, e isso lhe fazia muito bem. Não gritava assim havia muito tempo, e foram vários os momentos em que deveria ter agido assim. Em vez de apenas aceitar o que ocorria na sua vida pessoal, em vez de se submeter aos piores abusos emocionais de Motoki, ela deveria ter liberado a raiva reprimida e toda a desgraça com uns bons berros. A pessoa errada, mas a atitude certa.
— Cheios de dinheiro, mas tristes. Fracassados na vida, que se excitam ao olhar menininhas bonitas. Pode ter certeza, eu conheço o seu tipo. Vocês só querem uma fantasia para levar aos seus lares infelizes, habitados pelas suas mulheres e filhos mais infelizes ainda!
— O quê? — Mamoru não estava devidamente preparado para um duelo verbal com alguém que possuía uma língua que mais parecia um chicote de tão ferina. Ela o encarava furiosa. De cada milíme¬tro do seu rosto fascinante brotava desdém. Ele começou a rir, a gargalhar, uma reação genuína. Mais indignada, a mulher retomou o caminho.
— Você não vai pegar o metro a esta hora para casa, vai? — perguntou ele.
— Saia daqui, seu pervertido.
Ele a ultrapassou e obstruiu o caminho dela. A mulher tentou desviar por um lado e pelo outro, e percebeu que Mamoru não pretendia lhe dar passagem.
— Você está no meu caminho, se você não sair da frente neste instante eu vou gritar tão alto que todos os policiais num raio de 15 km vão correr para cá!
— Esta é mais uma ameaça na linha vou-chamar-o-meu-Tayki?
— Saia do meu caminho. — Usagi notou que mal podia respirar com aquele homem, de rosto bem desenhado e expressão forte, para¬do diante dela.
— Eu não aprecio muito ser chamado de pervertido.
— Eu pareço estar me importando com o que você aprecia ou deixa de apreciar? — Ela, contudo sentia-se desconcertada e com remorso por tê-lo insultado daquele modo.
— Então você classifica todo homem que aparece no seu local de trabalho como um pervertido?
— Eu quero ir para casa. Já é tarde, e não há nenhum motivo para eu perder o meu tempo com essa conversa. Agora, com licença.
— Por que você não (palavra feia) um táxi para casa?
— Isso não é da sua conta. Se eu tivesse condições de andar de táxi para cima e para baixo, eu estaria trabalhando numa casa noturna?
— Nós não estamos falando de para cima e para baixo, mas do centro de Londres, de madrugada. O metro não é o lugar mais seguro do mundo para se freqüentar a esta hora. — Pelo menos era o que ele imaginava, já que raramente pegava metro. Tinha um motorista e quando não queria os serviços de Nicholas ele mesmo dirigia.
— E você é um especialista em metro, não é mesmo? — retrucou Usagi, como se tivesse lido os pensamentos dele. — Qual foi a últi¬ma vez que você usou o metrô? — desafiou ela.
Mamoru concluiu que era melhor se recompor, desistir e deixar a mulher em paz.
— Pois eu estava exatamente indo para o metro quando fui chama¬do de pervertido. — Ele não controlava as palavras que saíam da sua boca. Aquilo começava a perder o sentido.
— Você está mentindo.
— Quer dizer que agora eu sou um pervertido mentiroso?
Usagi o observou por mais alguns segundos e com um movimen¬to rápido o driblou, retomando o trajeto para o metro, cuja entrada já tinha as luzes apagadas.
Mamoru foi atrás.
Mas que diabos ele estava fazendo?, perguntou a si mesmo. O que importava se uma garçonete de boate ficara com uma impressão erra¬da dele? Por que ligar tanto se ela mexia demais com ele? No alto dos seus 34 anos já deveria saber se mostrar superior a esse tipo de coisa.
— Bem, adeus. — disse Usagi assim que entraram na estação deserta.
Pela primeira vez ela o via em um ambiente iluminado. O que Usagi imaginara ser apenas um rosto bonito, não muito diferente do qual a esperava agora de boca aberta, sobre o sofá velho, com uma garrafa de uísque vazia do lado, se revelou muito mais do que isso.
Aquele homem, cujo nome ele nem mesmo se deu ao trabalho de anunciar, pois, claro, alguém tão importante e tão bêbado não se pres¬taria a tal delicadeza, especialmente quando à caça de uma mulher para levar para a cama, estava acima da média. Ele era deslumbrante, iria para o topo do ranking de qualquer mulher.
Levemente moreno, cabelos curtos e pretos, olhos escuros como a noite, e um corpo que dava a impressão de ter sido talhado à perfeição.
— Para qual estação você vai?
— Para uma que não seja a sua — respondeu Usagi, agora calma¬mente, enquanto enfiava as moedas na máquina de bilhetes.
— Como você sabe?
— Porque eu tenho olhos para ver. — Para comprovar o que dizia, deu uma boa olhada, de maneira insolente, no terno caro dele, nos sapatos de marca e no relógio de ouro.
— Eu a levo até a porta de casa — afirmou Mamoru. Havia algo na garota que o deixava preocupado pela segurança dela. Talvez a rebel¬dia que ela demonstrara. — Você não precisa ter nenhum receio. Eu não vou tentar me aproveitar de você durante a viagem.
— Eu não preciso de escolta.
Olhos azuis claros. Os olhos azuis claros mais cristalinos que ele já vira. À meia-luz da boate só lhe deu uma amostra do rosto dela. Aqui revela¬vam-se os olhos grandes, do formato de uma amêndoa e a boca avantajada, sempre com os cantos para baixo, devido à constante expressão de desprezo que ela fazia questão de ostentar.
— Talvez haja alguns drogados e bêbados esperando para entrar no mesmo vagão que você.
— Fico sensibilizada por você se preocupar tanto com o meu bem-estar, mas realmente faço esta viagem quatro dias por semana. Portanto, não há razão para a sua apreensão, eu sei perfeitamente tomar conta de mim mesma. Provavelmente melhor do você pode tomar conta de si próprio.
— Você vai continuar fazendo o papel da garota irritada?
— Olha, é tarde — disse Usagi devagar, com dificuldade para manter os seus olhos fixos nos dele. — Eu não gostei de como você me olhava na boate, e eu não gostei de ser seguida. Estou sendo clara? Eu preciso dormir um pouco, caso contrário amanhã eu não vou con¬seguir aguentar.
— Você não tem o dia inteiro para dormir?
Usagi sentiu-se corar. Ficou ruborizada como uma adolescente, quando na verdade ela tinha 23 anos e experiência para reagir a algu¬mas situações com um pouco mais de jogo de cintura.
— Tenho coisas para fazer — murmurou ela. — Agora, se manda.
— Tudo bem, mas amanhã eu vou estar esperando por você na boate.
— Por quê?
Todo o episódio estava realmente a deixando confusa. Ela tornara-se perita, num curto espaço de tempo, em entender os homens que frequentavam o seu local de trabalho. Eles eram normalmente de meia-idade, casados, mas não sérios o suficiente a ponto de não fica¬rem abalados diante de uma garota com um vestidinho curto. Ho¬mens inofensivos. Além deles, havia os grupos de yuppies, mais pe¬rigosos, pois não tinham mulher e filhos para lhes torturarem a cons¬ciência.
O homem na frente dela não se enquadrava em nenhuma das duas categorias.
Ele era do tipo que não precisava estar atrás de garçonetes em casas noturnas ou em qualquer outro lugar, pelo simples fato de que a mulher que ele quisesse se poria aos pés dele em um estalar de dedos.
— Porque eu não gosto de ser tachado de nada sem ao menos ter o direito de fazer a minha defesa. — O que remetia Mamoru à pergunta anterior de por que, em primeiro lugar, ele deveria se incomodar com isso. — Veja as coisas assim — argumentou ele, tentando aproveitar-se da hesitação dela. — Como você se sentiria se eu a insultasse, deduzindo que, pelo fato de trabalhar como garçonete em uma casa noturna, vestida com trajes minimos, você fosse...
— Uma prostituta barata? — interrompeu Usagi. — Uma mulher de vida fácil? Uma mulher sem virtudes? Uma fracassada que não tem nada melhor para fazer na vida do que ficar se matando por gorjetas numa boate? — Era isso que todos eles pensavam. Todos os homens que ficavam babando enquanto ela limpava as mesas e ofere¬cia champanhe. Ela tinha a consciência da reputação que pudesse ter na cabeça daqueles homens, porém, ela sabia por que fazia o que fazia. Que importância tinha o que pensava um estranho sobre ela?
— É isso? — murmurou Mamoru. — Eu acho que talvez você quei¬ra dar a sua versão para os fatos?
— Eu não tenho que dar nenhuma versão dos fatos para você, mas deixa eu só dizer a você que eu não sou uma transa fácil. — Muito pelo contrário, pensou. Um amante durante toda a sua vida. Motoki, o cara que ela conhecera aos 16 anos. Com quem ela não tran¬sava há... Há quantos meses agora?
Um grupo de adolescentes barulhentos, bêbados, mas distraídos demais com as suas próprias brincadeiras para representarem uma ameaça, esbarrou nos dois ao usar a máquina de bilhetes. Mamoru a segurou pelo braço e a tirou dali.
— Eu a levo para casa em um táxi.
— Oh, você está assustado com o fantástico transporte público britânico? — debochou Usagi.
— Por favor, deixe de tolices.
— Olha, eu prefiro me arriscar com os guris baderneiros a me confinar em um táxi com você.
— Então eu só a coloco em algum maldito táxi e pago ao motorista para levá-la aonde você mora!
— Ah, perdeu o entusiasmo pela minha companhia agora que sabe que eu não vou dormir com você.
— Vamos lá. — Mamoru nunca encontrara uma mulher tão descon¬fiada e cínica, mas pelo menos ela tinha senso de humor! Será que era por isso que ele agora chamava um táxi para ela, em vez de simples¬mente deixá-la tomar o primeiro metro para casa?
— Você, meu senhor, é o mais arrogante dos mais arrogantes!
— Cuidado. Começo a me acostumar com o seu repertório de elogios.
— Duvido. — O táxi encostou na calçada. Usagi se deu por ven¬cida e desistiu de se opor à insistência dele. — A menos que o destino se comporte de uma maneira insólita, esta é a última vez que nos vemos.
Mamoru não disse nada. Abriu a porta do táxi para ela, entregou ao motorista algum dinheiro e foi falar com ela, já sentada no banco do carro.
O corpo dele, grande e forte, mal cabia no vão deixado pela porta traseira aberta. Quando ele abaixou a cabeça para olhá-la, teve a im¬pressão de que o brilho dela tomava todo o interior do veículo.
— Eu acho que não — disse ele, num tom de voz baixo e suave. Usagi perturbou-se com o arrepio de excitação que sentiu na espi¬nha. — Afinal de contas, eu ainda tenho que me defender das suas acusações, não é mesmo?
— Eu peço desculpas — ela disse rapidamente. — Isso não basta?
— Eu a vejo amanhã.
— Eu nunca irei para a cama com você — protestou ela, agressiva. — Você faz uma idéia errada de mim!
— Na vida, aprendi que nunca é a palavra mais inconstante do dicionário. — Mamoru encerrou a conversa e bateu a porta do carro.
O que Mamoru não chegou a dizer era que nunca também era a palavra mais instigante do dicionário. Especialmente naquele contex¬to, e especialmente para um homem como ele.

Continia…
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MensagemAssunto: Re: Ironias do Amor   Ironias do Amor Icon_minitimeQui Fev 25, 2010 12:19 pm

CAPÍTULO II

— Não sei por que você fica perdendo o seu tempo nessa porcaria.
Usagi olhou para Motoki. Ele estava do outro lado do quarto, jogado na poltrona, em frente à TV, com os pés largados sobre a mesinha de centro arrastada até ali. Ele a encarava de um modo que ela conhecia bem.
Exatamente por isso, Usagi o ignorou e voltou a atenção para os livros.
— Já disse, amor. Você não tem inteligência para fazer nada nes¬sas empresas que têm por aí. Você abandonou a escola aos 16. Já se esqueceu?
Ele estava tomando cerveja. Melhor assim. Se fosse uísque os comentários seriam muito mais venenosos. Daqui a pouco ele sairia, pois afinal era sábado. Homens como ele não ficavam em casa num sábado à noite, quando todos os seus amigos estariam no café da es¬quina assistindo ao futebol na tv.
— Isso não significa que eu não possa estudar — afirmou Usagi sem levantar a voz, mesmo consciente de que não havia sentido dis¬cutir o assunto mais uma vez.
— Claro que significa. Os todo-poderosos dessas companhias por aí não estão procurando uma garota como você, Usagi. Você pode ser bonita, mas não tem currículo. — Ele soltou uma risadinha cruel, e os dedos de Usagi apertaram a caneta. — Deixa pra lá, a que horas você vai trabalhar hoje?
— Por que o interesse? Você não estará aqui quando eu sair.
— É verdade. Por que você não vai pegar uma cervejinha pra gente?
— Você já vai beber o suficiente no café, Motoki.
— Ah, não. Não me venha com mais um dos seus sermões. Você se tornou a senhora supercertinha desde que meteu na cabeça essa idéia de estudar marketing. Você deveria era ter se contentado com o empreguinho de secretária.
Motoki atingira o limite dela. Usagi fechou com raiva o livro que lia.
— Mas eu não podia, não é mesmo, Motoki? E nós dois sabemos porquê!
Ele levantou-se, ajeitou os cabelos com os dedos e seguiu para a cozinha com cara de bravo. Desta vez, porém, ela não o deixaria sem resposta.
Três noites atrás, Usagi sentiu imenso prazer em gritar com al¬guém, e ela preparava-se para repetir a dose. Agora com a pessoa certa, e não com um estranho que atravessara o seu caminho. Um perfeito estranho que obviamente não voltou a dar as caras na casa noturna. Nas últimas noites, Usagi bem que o procurou na boate, para em seguida censurar-se de maneira árdua por ato tão insano.
— E então? — provocou Usagi junto à porta da cozinha.
Motoki abria outra cerveja e começava a beber da lata mesmo.
— Não vou ficar discutindo isso com você, Usagi. Por que você não volta para os seus livros e finge que vai chegar a algum lugar na vida?
— Não, eu quero discutir isso com você, Motoki. Eu já estou por aqui das suas ofensas, dos seus disparates, da sua falta de companhei¬rismo e da sua falta de apoio. Eu não pude ficar no emprego de secre¬tária porque o salário não era suficiente para sustentar nós dois!
Ela passara tempo demais cheia de reticências sobre aquele tema.
— Eu suponho que você esteja me culpando pelo acidente!
— Eu não o estou culpando por nada! Mas isso já faz dois anos! Já não é hora de acordar para o fato de que você nunca vai ser um jogador de futebol profissional?
— Quer saber de uma coisa? Eu não vou ficar aqui ouvindo isso! Tchau.
Frustrada, com lágrimas nos olhos, ela permaneceu de pé no vão da porta, bloqueando a passagem dele.
— Você precisa arrumar um emprego, Motoki.
Ele bateu a lata de cerveja na mesa, espirrando o líquido sobre o tampo do móvel.
— Um emprego num escritório, Usagi? Você acha que devo me vestir com um terno barato e ver por aí se alguém quer me contratar?
— Não precisa ser um emprego num escritório.
— Bem, então quem sabe um emprego como o seu?
— O meu emprego, por acaso, paga cinco vezes mais do que eu conseguia como secretária, e cem vezes mais do que eu ganhava no restaurante.
— E assim você pode ter tempo livre para estudar, como se você fosse um dia ter um trabalho numa empresa.
— Bom, eu não teria outra saída, não é mesmo? Pois você não demonstra a mínima intenção de colaborar com as despesas!
— Quer saber de uma coisa, Usagi? Se você acha isso, por que não vai embora?
— Talvez eu vá — afirmou ela. Usagi saiu dali e ouviu de longe as desculpas dele. Disse que precisava dela e bateu a porta ao sair de casa.
Os dois sabiam que o fim da relação chegara, e chegara há algum tempo. Seria duro, no entanto dizer adeus para a história, as lembran¬ças da adolescência de ambos, quando a esperança não alcançava limites. Passados os anos, o único sentimento que mantinha o casal junto, pelo menos da parte dela, era pena.
Quando ocorreu o acidente ela sentira pena demais de Motoki. A piedade a impedia de dar o passo necessário de terminar com tudo. O namorado havia mudado, eles haviam mudado.
Motoki tornara-se embrutecido e amargurado por causa do seu destino. Até mesmo os espasmos de angústia quando ele se abria e estabelecia algum diálogo com ela rareavam. Um não conversava com o outro havia meses.
De certa maneira, a boate oferecia a Usagi o trabalho ideal. Para não falar na excelente remuneração, o emprego não lhe propiciava tempo para pensar nos seus problemas. Estava sempre ocupada ser¬vindo às mesas e trocando piadas com as colegas sobre os fregueses.
Embora o bate-boca que tivera há pouco com Motoki não seria esquecido após uma noite de trabalho. Os dois atingiram um limite antes não alcançado.
Duas horas depois, Usagi já servia às suas mesas na boate, sem tirar a briga da cabeça, quando o avistou. O estranho sentado sozinho nos fundos do salão. O coração de Usagi deu um salto, uma palpitação de contentamento absurda que desaparecera tão rápido quanto viera.
Por quanto tempo ele estava sentado ali?
Agora que o descobrira, Usagi começou a se preocupar com cada movimento que ela executava. Até que finalmente não teve outra saída senão abordá-lo, mesmo que ele não estivesse sentado numa das mesas sob responsabilidade dela.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu disse que eu voltaria — lembrou ele, no mesmo tom de voz suave e levemente irônico que lhe provocou um arrepio na espinha dias atrás. — Você sentiu a minha falta?
— Eu não fui clara o suficiente. Eu não estou à venda, ao contrário dos drinques e da comida.
— Por que a gente não sai daqui e vai a algum outro lugar mais civilizado para tomar um café? Eu conheço um café muito bom e que fica aberto 24 horas.
— Um café 24 horas aberto? Por favor. Onde seria isso? Em outro planeta?
— Num hotel adequado para um homem como eu. Não o homem pervertido que você me julga, mas alguém que trabalha muito e não tem horário certo para nada.
— Não acho que seja uma boa idéia.
— Você parece exausta.
As três palavras quebraram um pouco o gelo, pois a levaram a relembrar a briga com Motoki. Não havia um cantinho nela que não estivesse exausto com a vida. Como ele atentou a isso, se ninguém mais reparara?
— Há uma ou duas razões para eu nem cogitar sair com você — protestou Usagi, azeda. — Se você prefere não considerar as que dei a você, aqui vai mais uma: estou aqui há uma hora e meia somente, e isto aqui é o meu trabalho.
— Eu acabo de me lembrar que eu nem mesmo sei o seu nome. Como você se chama?
— Olha, preciso ir. Ami vai subir pelas paredes se pensar que estou tentando roubar um cliente dela.
— Por que você trabalha num lugar como este?
— Eu já respondi isso. Agora, preciso ir, tchau.
— Eu encontro você na saída em meia hora. — Ele ficou de pé, terminou a bebida e a encarou. — Tudo bem?
— Eu não vou a lugar nenhum com você! Eu estou falando alguma língua que você não conheça?
— Eu vou resolver as coisas com o seu chefe.
Usagi deu uma risada seca e curta.
— Ah, vai? E como você pretende fazer isso? Vai botar uma arma na cabeça dele?
— Eu aprendi faz tempo que pela força não se consegue nada nessa vida. — Os olhos escuros dele se fixaram nos dela, e Mamoru experimentou de novo o impulso de excitação. O mesmo rompante que lhe vinha a cada vez que pensava nela, coisa que ele fez com regularidade assustadora nos últimos dias. Ela era um desafio, Mamoru admitiu, por isso havia tomado a decisão de voltar à casa noturna.
— Deixa comigo.
Deixa com ele! Bem, por que não? Ele não conhece Tayki e obvia¬mente não tem a menor idéia do quão rigorosos são os patrões em boates como aquela.
— Claro — comentou ela, em tom desafiador. — Se você conse¬guir tal proeza, vou com você para o seu café. Mas como isso não vai acontecer, lhe dou apenas o meu boa-noite e informo que será inútil voltar aqui, porque da próxima vez eu não lhe dirigirei a palavra.
Foi um pouco perturbadora a sensação de arrependimento com a qual encerrou a conversa, mas, acima de tudo, Usagi era uma pessoa pragmática. A sua vida já tinha muitos problemas para ela embarcar em mais um na forma de um homem, provavelmente casado, pois um cara bonito e bem articulado como aquele não seria solteiro. Ele bus¬cava uma aventura curta, sem compromissos, com uma garota bonitinha qualquer.
Ela se asseguraria de que não voltaria a olhar para ele.
O que Usagi nunca poderia imaginar era que Tayki a chamaria, dez minutos depois.
— Eu o quê? — balbuciou Usagi, após Tayki lhe dizer o que queria.
— Você pode tirar o resto da noite de folga.
— Eu cheguei agora, Tayki.
— Ami não vai se importar em cobrir a sua ausência. Ela está precisando recuperar o dinheiro de uns dias que faltou.
— Como ele conseguiu? Ele não fez... Ele não é... algum tipo de delinquente perigoso. Ele não o ameaçou, não é mesmo? — Usagi se recordou dos seus comentários inconseqüentes, noites atrás, sobre cabeças no café-da-manhã.
— Ameaçar a mim? Tayki Alfonso Roberto Sidwell? — Ele ficou na ponta dos pés por alguns segundos, ajeitou a lapela do paletó e lançou um olhar superior para ela. — Ninguém jamais ousou me ameaçar, Usagi Tsukino, e não se esqueça disso jamais! Ele apenas me disse que queria falar com você e que esta parecia a única hora em que vocês podiam se encontrar. Então, me deu o seu cartão e disse que, se eu precisasse de algum conselho, era só telefonar.
— Conselho? Conselho sobre o quê?
— Ele trabalha com finanças, Usagi. É um homem poderoso. Até eu já ouvi falar dele.
— Você está me dando a noite de folga porque um cara qualquer pediu a você e entregou um cartão? E as minhas gorjetas, Tayki?
— Eu cubro o dinheiro das gorjetas, Usagi. Dou o que você mais ou menos ganharia numa noite como a de hoje. Não diga que não sou justo.
— Eu não posso...
— Você merece uma noite de folga, Usagi. Nunca me deixa na mão. Você está me fazendo um favor, minha querida.
— Como assim, Tayki?
— Estou pensando em expandir o negócio, Usagi. Posso precisar da ajuda dele mais cedo do que você pensa — completou Tayki, maliciosamente.
Usagi notou que ficava sem opções.
— Você sabe o que ele está buscando, Tayki. Muito obrigada!
— Você está segura com esse aí, Usagi. Eu não daria a você a folga, caso contrário. Ele é um profissional muito conhecido. Não faria nenhuma besteira, não se arriscaria num escândalo.
Usagi não gostava de se sentir manipulada, mesmo apreciando a idéia de ter uma noite só para ela. Nada de livros, boate ou Motoki.
Se ela chegasse à saída e descobrisse que o homem mudara de idéia, melhor ainda. Ela vagaria por ali em algum lugar onde pudesse sentar e organizar em paz os pensamentos. Voltar para a casa não era a melhor opção, apesar de Motoki ter saído. Aquelas quatro paredes já a sufocavam.
Mas lá estava o cara. Esperando. Como havia prometido. Alto, de beleza fora do comum, e a encarando com uma expressão que ela não podia decifrar. O fato a deixava ainda mais apreensiva. Apreensiva e de alguma maneira... acesa. Viva.
— Como você conseguiu tal façanha? — Foi a primeira coisa que ela lhe perguntou.
Parecia uma gata agressiva, pensou Mamoru. Uma gata agressiva que ele metera na cabeça que queria domar. Uma gata que pularia dois metros do chão se ele somente a tocasse, mesmo que fosse o mais inocente dos carinhos. Mamoru abriu e segurou a porta da boate para que ela passasse.
— Tayki não disse? — indagou ele, furioso, mantendo a distância de segurança que ela demonstrava querer.
— Ele me disse que você deu a ele o seu cartão. Disse que você era uma pessoa importante do mundo financeiro. — Usagi o analisava, hostil. — Eu não me importo com quem você seja. Já disse as regras.
— Mas não sei o seu nome?
— Como?
— Eu sei as regras, mas não sei o seu nome.
— Usagi.
— Usagi. Você não parece uma Usagi — comentou ele irónico, e ela não levou na brincadeira.
— Não? Eu pareço com o quê? Alguma coisa mais fofinha? Uma Candy, quem sabe?
— Você está sempre na defensiva, Usa?
— Usagi — resmungou ela. — Todos me chamam de Usagi. Eu odeio Usa.
— Por quê?
Usagi deu de ombros, da mesma forma que sabia que ela odiara ter revelado o pormenor de natureza pessoal.
— Bem, Usagi — disse ele, esticando o braço para chamar o táxi. — Nós vamos ter que pegar um táxi juntos para irmos àquele hotel...
— Hotel? Não, não, não. — Ela recuou, e Mamoru impacientou-se.
— Eu disse hotel. Eu não disse quarto de hotel. Nós vamos a um hotel em Covent Garden, ao qual eu normalmente vou quando traba¬lho até tarde. Há um bar no térreo, e eu garanto que o lugar vai estar cheio de gente. — Os olhos grandes azuis, entretanto se mantinham desconfiados, e Mamoru precisou controlar-se para não acariciá-la na tentativa de acalmá-la.
Ele mal podia acreditar que em plena madrugada se dispunha a esperar pacientemente que uma mulher lhe desse uma oportunidade para tocá-la.
— E então? Você vem comigo ou não? Se não, você pode estar certa de que nunca mais me verá de novo. Se você decidir vir, esque¬ça as suas suspeitas e entre neste táxi comigo. Muito bem, decida.
Pela expressão de Usagi, Mamoru percebeu o embate que se passava dentro da cabeça dela. Seja lá qual fosse o resultado daquele con¬flito interno, ele não iria atrás daquela mulher de novo. Comportava-se com ela de um jeito que não condizia com a sua personalidade e estava pronto para colocar ali um ponto final naquilo tudo.
— OK. — Usagi deu de ombros novamente e se aproximou do táxi. Ele se adiantou e fez questão de abrir-lhe a porta. Um gesto com o qual ela não estava acostumada, pois Motoki não era o tipo de cara que abria porta de carros para mulheres.
Apesar da gentileza, ela não vacilou em se sentar encolhida na ponta do banco traseiro, para manter a maior distância possível dele. Não se arrependeu do procedimento, porque mesmo assim, para o seu próprio assombro, percebeu-se sensível à presença dele.
— Eu não sei o seu nome — afirmou Usagi, após o táxi partir.
— Mamoru Chiba.
— Mamoru Chiba — repetiu Usagi, forçando a memória. — Você é alguém importante no mundo dos negócios, não é?
— Pode-se dizer que sim. — Ela não aparentava nenhum deslum¬bramento com isso, e Mamoru cedeu à tentação infantil de exibir o seu cartaz. — Eu lido com finanças corporativas. Nós tratamos de fusões e aquisições. Eu também faço investimentos em propriedades. Com¬pro para reformar e vender.
— Certo. — Ela virou-se para olhar a cidade através da janela do carro. Esta parte de Londres nunca estava escura. Luzes, painéis lu¬minosos e a agitação familiar. Por alguma razão, Usagi achava mais fácil perder o olhar nas cenas da cidade do que encarar o homem a seu lado.
Ele era o primeiro cara com quem ela conversava de fato em muito tempo. Usagi ia às aulas durante o dia, mas não participava das festas e encontros dos colegas em bares. Falar com os clientes da boate nem pensar, e ela e Mamoru não mais conversavam sobre qualquer coisa que valesse a pena.
— Você não mora em Londres? — Usagi relutante o olhou, e, por um instante de desatino, imaginou como ele seria por baixo do paletó caro e da camisa social.
— Por que você acha isso?
— Bem, se você morasse na cidade, por que iria para um hotel quando trabalha até mais tarde?
— Eu tenho um apartamento em Chelsea. Esse hotel oferece refei¬ções tarde da noite, e às vezes vamos lá para finalizar um acordo enquanto comemos.
— Nós?
— Meu pessoal.
— Seu pessoal?
— Contadores, advogados, quem for preciso. De vez em quando, eu venho sozinho para comer e terminar o trabalho longe do barulho de telefones e fax. — Não seria inteligente acrescentar que ele com¬prara e reformara o prédio onde funciona o hotel e, como previsto no contrato, possuía uma suíte de cobertura, que ele costumava usar quando simplesmente não queria se dar ao trabalho de pegar o carro e pedir que George o levasse dali de volta a Chelsea. A pequena extravagância a faria correr à procura de abrigo.
E Mamoru se dava conta de que a última coisa que desejava era que ela buscasse abrigo para se proteger dele.
— E a sua esposa? Ela aprecia os seus jantares em hotéis caros quan¬do você trabalha até tarde com o seu pessoal? — Irrelevante para Usagi se ele era casado ou não. Não tinha nenhuma intenção em relação a ele. Logo, a curiosidade demonstrada surpreendia a si própria.
— Se fosse casado, eu não estaria aqui. — A frieza na voz dele fez com que ela quisesse retirar a pergunta. — Você não acha impossível trabalhar num lugar em que a sua opinião sobre os seus clientes seja tão ruim?
Ela foi poupada do desafio de encontrar uma resposta para o ques¬tionamento, pois o táxi estacionava em frente a um edifício elegante, situado entre uma butique cara de roupas masculinas e uma loja de decoração.
Usagi pressentia, contudo que a pergunta se repetiria no primeiro momento em que eles estivessem a sós.
— Não é o tipo do lugar para uma garota de jeans — sussurrou ela, com uma risada nervosa, quando entraram no saguão do hotel. Cores sóbrias, uma ou duas pinturas abstratas nas paredes e plantas que pareciam colocadas ali para transmitir uma mensagem específica.
E ele não mentira. Havia pessoas mesmo no saguão. Pessoas re¬quintadas, que aparentavam ter dinheiro e com pinta de artista.
Usagi fechou os punhos dentro dos bolsos da jaqueta e caminhou ao lado dele, que, com longas passadas, alcançou logo uma escada que os levou a um bar no piso inferior,
O que ela estava fazendo ali?, perguntou-se, tensa.
— As pessoas vêm para cá vestidas com o que bem entenderem — murmurou Mamoru. — Não precisa se sentir deslocada.
— Eu não estou me sentindo deslocada.
— Não? — Ele fez uma pausa para uma expressão de que não estava levando fé no que ela falava. Ela não resistiu e acabou sorrindo.
— Bem, um pouco.
Era o sorriso? Ele se interrogara. Alguma coisa no sorriso dela desmentia aquele ar de cinismo, revelava uma vulnerabilidade enor¬me e dizia muito sobre a perspicácia, o humor e a inteligência guar¬dados nela.
— Pegue uma mesa — propôs ele. — Vou pedir algo para bebermos. O que você prefere?
— Café, por favor. Descafeinado, se eles tiverem.
— Eles têm de tudo aqui.
Usagi sentou-se a uma das mesas circulares de granito polido. As cadeiras tinham um formato esquisito, muito confortável, apesar de não parecer. Como no saguão, havia muita gente no bar. Um mundo de pessoas da noite, exóticas e jovens, as quais bebiam e se divertiam.
— E então? — Ele colocou a xícara sobre a mesa e sentou-se. — Um pouco menos... agitada?
— Eu não estava agitada — disse Usagi, enfática. — Eu estava chateada porque você me manipulou para que saíssemos.
— Você poderia ter dito não e ido embora. Ninguém a forçou a entrar no táxi e vir para cá. E você não respondeu à minha pergunta. Por que trabalha num lugar em que os clientes provocam em você repugnância?
— Eles não me provocam repugnância. Alguns clientes são até bem legais. Ou pelo menos aparentam ser.
— Você apenas não gosta do tipo de homem que freqüenta esses lugares.
— Você gosta? — Usagi posava de indiferente, determinada a não deixar que ele notasse o quanto ela estava nervosa e balançada por ele.
— O engraçado é que temos a mesma opinião. Eu só fui lá naquele dia para atender a um pedido de um cliente.
— Ah, e você não estava aproveitando... dando uma olhada em volta?
— Na verdade, não. Isto é, até ver você.
A declaração sem meias palavras a pegou desprevenida e desper¬tou todo o seu corpo. Ela não conseguia pensar em alguma coisa para dizer, e ele não demonstrava pressa para quebrar o silêncio e resgatá-la daquela situação.
— Eu... eu... Como eu disse, trabalho lá porque o dinheiro é muito bom... Eu...
Mamoru a analisava. Ela baixou os olhos e procurava se distrair com o café. Provavelmente, era uma mulher experiente, mas ela fazia com que ele se sentisse como um lobo grande e mau, e ele não gostava daquela sensação.
— Por que você não arruma um emprego diurno? — perguntou ele, permitindo a mudança de assunto, mesmo quando o que realmen¬te queria saber é como ela trabalhava onde trabalhava e ainda sim se envergonhava com o galanteio de um homem.
— E por que você não é casado? — Usagi empinou o queixo e perguntou de forma direta.
— Eu deveria ser casado? — perguntou Mamoru. Confidencias pes¬soais não constavam da sua pauta. Ele ficou desconcertado um pouco e tomou num só longo gole o que restava da sua bebida.
— Bem, você não é tão velho, você é... você é... — A iniciativa que ela reconquistara desapareceu assim que Usagi constatou o ca¬minho que tomava. Listaria os atributos dele, ao mesmo tempo que aquele olhar ousado conspirava contra o muro de cinismo que ela erguera ao longo dos anos?
— Sou todo ouvidos — encorajou ele.
— Obviamente, rico.
— Mais alguma coisa?
— Sim. Arrogante, manipulador, com um ego gigantesco, maior do que um trator.
— Hmmm. Não me parece uma lista de qualidades apreciadas pelas mulheres.
Os olhos de ambos se encontraram, e Usagi foi a primeira a virar o rosto. Essa conversa tornava-se perigosa.
— Talvez por isso você não tenha encontrado uma esposa ainda — afirmou Usagi rapidamente. — Como você descobriu este lugar? — disse, mudando de assunto.
— Eu comprei este edifício, o reformei e o revendi. — Mamoru a observou digerir a informação enquanto fantasiava aquele rosto exó¬tico e lindo a brilhar de paixão, aquele corpo despido, agitado pelo abraço de um amante. O abraço dele.
Mamoru engoliu a saliva e se ajeitou na cadeira.
— Parece muito importante. Como você conseguiu entrar nesse negócio? Deve custar uma fortuna fazer parte do mercado imobiliá¬rio. Especialmente em Londres.
— Eu estudei economia na universidade — disse Mamoru. — Co¬mecei com finanças antes de investir em propriedades.
— Você deve ter feito bastante dinheiro com finanças, nesse caso. De outra maneira, você não teria contado com capital suficiente para entrar no mercado imobiliário.
Mamoru a mirou por alguns segundos. Os olhos de suspeita dele se depararam com os dela, inocentes e arregalados.
— Eu sempre tive uma quantidade razoável de dinheiro à minha disposição.
Claro que ele teria. Era um homem nascido no meio do dinheiro. A riqueza cobria os seus ombros como uma capa invisível. Usagi desejava vê-lo dizer isso. Alto e claro, para que ela se lembrasse de mais uma razão pela qual deveria sair rapidamente daquele lugar, antes que o rosto sexy, a habilidade para ouvir e a conversa sedutora de Mamoru vencessem a cautela dela.
— E... o que fazem os seus pais? — perguntou Mamoru.
— Isso é realmente relevante?
— É para mim.
— Minha mãe é faxineira. Meu pai era carpinteiro do setor de embarcações, mas o número de pessoas que preferem coisas artesanais não é muito grande atualmente. Ele mora em Boumemouth. Ain¬da faz algumas peças por conta própria, mas o seu emprego mesmo é o de supervisor numa fábrica de móveis. — Usagi se pôs de pé e sorriu educadamente.
Ela se ressentia pelo fato de que não o encontraria novamente, mas era assim que tinha que agir.
— Bem, obrigada pelo café. E por favor, posso pegar o meu táxi para casa. — Usagi não tinha ânimo para enfrentar o metrô naquele momento. Antes que ele pudesse dizer algo, ela já se apressava porta afora, subia a escada e cruzava o chique saguão, que parecia saído de uma revista de celebridades.




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MensagemAssunto: Re: Ironias do Amor   Ironias do Amor Icon_minitimeSáb Mar 20, 2010 2:12 pm

Como é que ainda ninguém comentou!
Está lindo!

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